Thursday, March 12, 2009

Thursday, February 19, 2009

WONG KAR WAI - IN THE MOOD FOR LOVE




O andar sensual no vestido justo. Padrão que se confunde nos espaços.
Corte de pescoço alto sufoca e tranca o apetite emocional.
Os encontros. Intersecções repetidas em espaços apertados, escuros e húmidos.
Ritmo lento quando ela vai e ele vem.
Música melancólica dramatizando a expressão de insatisfação nas refeições solitárias.
O cenário como testemunha destes fantasmas que se cruzam. Ambos no sustento do desgosto emocional.

Quem são estas pessoas? Sobras de refeições que perderam?

David

Monday, February 16, 2009

SAM MENDES - REVOLUTIONARY ROAD

No fim do sonho






Numa situação de extremo, antes mesmo de qualquer pedido de auxilio, o confronto arrepiante entre tudo o que nos torna humanos e o derradeiro silêncio da natureza, testemunha, que não age nem julga.
Na sequência mais dramática, entre ilusões e desilusões, talvez a mais bonita imagem de todo o filme.

Sonha ou relembra naquele último suspiro antes de abrir os olhos?

Igualmente bom o trailer (ao som de "Wild is the Wind" de Nina Simone) enriquecido com falas que ganham segundos sentidos.
"Nothing is permanent, right?"

David

Saturday, February 7, 2009

GUS VAN SANT - GERRY

No fim da estrada



A música indescritivelmente triste, já conhece à partida o desenrolar da história ainda por começar.
O piano num balanço repetitivo, como a paisagem que teima em não mudar.
O violino que sobe e desce as montanhas chora lentamente a demorada viagem pela frente.
O plano aberto, eleva a força esmagadora da natureza perante o pequeno carro que conduzem.
Na ausência de dialogo entre dois amigos, o pressentimento do destino fatalista que os espera.
Com o excerto inicial, a fragilidade na solidão que marca todo o filme.

David

Wednesday, February 4, 2009

KATE MOSS BY MARIO TESTINO

Espelho meu


A diagonal perfeita numa pose aparentemente descontraída.
V sugestivo nas pernas cruzadas com a prancha que foge da imagem.
Desejo na expressão. Ardente no cabelo.
A seta do cotovelo, aponta a matéria de tais anseios.
Na escassez de jóias e adereços, sublinha a sua independência.
Pelo espelho quem observa.
No reflexo do espelho quem a observa.
Calções aos quadrados?
Xadrez é um jogo de triangulações.

David

Monday, February 2, 2009

GUS VAN SANT - LAST DAYS

De volta às raizes - Kurt Cobain





Brincadeiras com uma espingarda.
Vestido de mulher.
Escondido do mundo, o mundo é estranho.
Conversas com fantasmas.
Os fantasmas das crianças.
Buracos no jardim.
Isolamento, indiferença e abandono.
Leite e cereais.
Errático e livre.
Curioso e observador.

Porque razão existem no extremo desprendimento tantas referencias a uma crianca que existiu, existe e está prestes a deixar de existir?
Assustador este filme.

David

Wednesday, June 20, 2007

FRAGILE

Pietà

O manto negro que oculta a nudez, deixa a descoberto uma perna longa.
Dentes enormes. Tom de pele pálido de contraste dramático com o negro intemporal do fundo.
Pescoço longo e robusto de posição fragil.
Sobrancelhas negras e fartas. Ombros largos e desfalecidos.
Frágil no menos mulher que é quanto figura.
Mais mulher nos intensos lábios vermelhos e olhos azuis.
Homens ainda jovens de tronco nú que a sustentam. De olhos fechados.
Um terceiro olha na direcção do "Fragile".

A fragilidade da mulher, não só no peso da representação pictória,
mas também na semelhança com um icone religioso, sagrado, que atravessa as fronteiras da representação.

David

Sunday, June 10, 2007

TRUE - Tom Tykwer

Um positivo negativo


Filme genial sobre paradoxos.
Pequenos instantes que parecem eternidades, assim como eternidades são viajadas em pequenos instantes.
O desgosto da cegueira emocional que traz clarividencia à cegueira com que nasceu.
Uma mentira casual que abre janelas à verdade.
A proximidade cada vez mais distante.

David

Friday, June 8, 2007

OMERO - Vieni e prendermi

Longing for connection

Vestido negro mais negro que a negra parede.
Luvas negras, lingerie negra, sapatos negros.
Até o telefone que segura é negro.
Sensualidade que espreita pelo contrastante negro, como as linhas claras do seu claro tom de pele contrastam com o mundo negro que tráz consigo.
A alça que cai, a lingerie, o corte ousado do vestido revelador, justo no corpo antes mesmo do encontro marcado.
Expressão triste de pose sensual.
Enluvada, de telefone na mão toma a iniciativa.
À esquerda, o desejo de partir.
À direita, uma conversa na qual despreza o interlocutor.
Experiente na sedução, apenas precisa do seduzido.

A parede negra expõe a natureza do seu mundo.
Um mundo negro, angustiante, do qual se quer despir.
O telefone como porta. A sensualidade e lingerie como arma.
Sem coração.

Ciao. Ti sto aspettando.
À meia noite.

David

Tuesday, June 5, 2007

YVES SAINT LAURENT - PARIS

Em memória do Grande Homem Roberto Barbosa

As mulheres, frias e calculistas.
Os homens, uns cães emocionais.

Ambos o escondem num jogo de opostos.
Não na imagem.

Para ti Roberto, que como sempre, em jeito de brincadeira,
fazias questão de sublinhar.

David

Thursday, May 31, 2007

2046 - "THE HAND 3"

Cab Ride Intemporal

Chow de cabeça no ombro de Bai Li. Sonolento e embriagadamente longe da realidade em que se encontra.
A preto e branco, na memória passada de um amor falhado
que luta para não esquecer.

Mente no passado, o corpo no presente. A mão entre ambos.

David

Wednesday, May 30, 2007

LOST HIGHWAY 2

Mistery Man

Cedo no filme, percebemos onde a viagem tem inicio.
Fred toca saxofone e muitas vezes actua tarde. Vive atormentado pelos ciúmes sente pela mulher. Invade-lhe a cabeça. Será que o levarão à loucura? Será este filme uma jornada pela loucura, tal como Fred a vê?
A suspeita de infidelidade por parte da mulher amada é potenciada em imagens na preferência evidente por pijama, robe, sandálias, unhas e cabelo negros (infiel?) ao contrário das peças claras convencionalmente utilizadas neste tipo de vestuário.
Em Lost Highway, este dialogo, sensivelmente no inicio do filme, é importante à compreensao da narrativa.

Fred acompanha a mulher à festa de um amigo. Ela diverte-se mais do que ele. Ele refugia-se num par de copos.
A certo ponto aproxima-se uma personagem estranha (na imagem).
A música desaparece afastando-se da realidade.
Cara mais que branca, sem sobrancelhas, dentes amarelos.
Olhos negros de olhar doentio.
Quando questionado sobre a sua identidade, responde com uma gargalhada diabolica.

Personificação de um ciúme louco, fora de controle, que nem ele próprio compreende.
Fará mais sentido substituindo house por head?

David

Tuesday, May 29, 2007

LOST HIGHWAY

Title Sequence

Uma linha amarela.
Incessante, irregular, acelera ou desaparece por nós.
Cada vez mais depressa, dentro do carro, não visível, oculto (a mente da personagem principal?), o espectador acelera loucamente sobre a estrada.
É noite. Viaja pelos confins do subconsciente? Ou pelos lugares negros da nossa mente?
É insustentável continuar assim. O acidente, a ruptura é inevitável, e a esta velocidade,
o acidente será “fuckin brutal” (Inland Empire).

É uma viagem louca e vertiginosa. Pela mente de quem?

David

GHOST IN THE SHELL

Ghost in the Shell, "Making of a Cyborg" - Mamoru Oshii - 1995

A criação do ciborgue, a recriação do ser humano?
Porquê uma mulher?

Cruz

CHANEL - COCO MADEMOISELLE

A Espera

Lábios Rosa para o perfume rosado definem o perfil e idade desta mulher coco mademoiselle.
As perolas brancas acentuam o toque inocentemente feminino.
A flor aberta, camélia branca, à janela para sublinhar o caracter virginal de primavera.
O olhar e a boca entreaberta de desejo opostos à nudez que guarda.
Encostada à parede, de braços cruzados, como quem alguém espera.
O chapéu, o colar de perolas e o peito que oculta como factores distanciadores, entre o erotico e a sexualização da imagem.
Um nú, tão repleto de desejo, mas tao desprovido de pulsão sexual.
Maquilhada no seu momento mais intimo.
Na nudez continua uma mademoiselle.

Por quem espera esta mulher?
Será uma espera sem fim, como nos diz o colar que traz no pescoço, pendurado?

David

Monday, May 28, 2007

EROS - THE HAND 2

Beijo na Doença

The Hand - Wong Kar Wai, segmento de Eros - 2004

Na limiar da doença, deitada num canto, incapaz para evitar o inevitável.
As mãos, outrora tão hábeis, sem forças para recuar os avanços dele.
Entrega fatal a dois num beijo contagiante, tão desejado, mas tragicamente impossível.

Interessante o jogo de avanços e recuos, das mãos, que agarram, impedem, desejam e choram.

David

EROS - THE HAND

Papeis Invertidos

The Hand - Wong Kar Wai, segmento de Eros - 2004

História melodramática de amor impossível que tem lugar entre apartamentos
de fundo e corredores de hotel, para intensificar o sentido de tragédias secretas.

Na imagem:

Ela, autoritária, possante, segura de si e vestida de negro.
Ele, tenso e assustado, ainda uma criança e aprendiz.

Ela de olhar frio e distante quando ele evita o contacto visual.

Ele procura nela a masculinidade a que tem direito por natureza.
Ela oferece-a com o único instrumento que une ambos os ofícios.

Ele é finalmente Homem, exímio costureiro. Ela, prostituta e futuramente a melhor cliente.

Papeis invertidos???

David

Sunday, May 27, 2007

GUC CI

Procura de Contacto?

Um azul idealista, distante, de cabelo esvoaçante.
Sonhadora, ela vive nas nuvens.
Ele pelo contrário está ligado à terra.
É cinzento e salta-lhe literalmente para a perna. De olhos vendados?

E as fichas e o jogo tipográfico de C's afastados?
O que liga ambos?

Será a procura incondicional de contacto?
De um lado, a procura de um contacto mais táctil, às escuras,
pois ele não quer saber a sua identidade.
Do outro, a procura de um sonho, um contacto mais emocional e utópico.

Ela toca-lhe o rosto com três dedos.
Com outros três ele procura intimidade.
Tocam-se no ponto em que a luz é mais intensa.
Os dedos como polos electricos.

Será esse o ponto de contacto que os une?

David

CK JEANS - DESTRUCTION DENIM

Hora de Jantar

Uma janela que espreita o outro lado dos dias desta mulher.
Um lado vermelho, para evidenciar o perigo e o desejo,
o amor e a paixão que os caracterizam.

São 8 horas, foi um dia longo.

Na segurança do lar, despe a segurança da roupa que traz vestida,
roupa preparada para resistir a tudo (Destruction Denim).
Cansada, com um olhar austero e azul frio, enfrenta quem ou o que a espera.
Cinzento para a indiferença. O cabelo solto para a dimensão humana e mundana.
Para onde olha este olhar sem emoção?

No momento imediatamente antes de tudo se revelar (com apenas um movimento),
no limite entre o vestido e o despido, a breguilha que se desprende nada mais revela
do que o pretendido.
Trará o sentido que falta à imagem?

São 8 horas e 10 minutos, foi um dia longo.

É hora de jantar, alguém está esfomeado.
Na cozinha, o forno janela oposto ao frigorifico.
Olha fixamente o prato principal.
Quem será o prato? Ele ou ela?

David